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Guida é uma produção cinematográfica de drama lançada em 2014, que reflete de forma assertiva o autoconhecimento e a linha tênue entre os conceitos de beleza e feiura. Com maestria, o curta-metragem de 12 minutos, dirigido por Rosana Urbes, explora elementos narrativos e visuais em uma animação sensível, contando, sem precisar de palavra alguma, a história de Guida, uma mulher que se redescobre - em corpo e alma.
Há 30 anos, Guida levanta cedo e encara uma rotina monótona no arquivo de um fórum em que trabalha, envolvida em um emaranhado de papéis que precisa carimbar. A expectativa de mudança é inexistente até então, afinal, com emprego fixo há tanto tempo, Guida se “entregou” a um costumeiro cotidiano que não parece mais ter escapatória. O que poderia ser uma crítica sobre as rotinas exaustivas de trabalho é, na verdade, uma reflexão e uma homenagem à velhice - como bem apresentou Rosana Urbes “a tudo que é velho”. Com traços delicados em papel, a animação nos mostra, além do seu trabalho, a inspeção diária de Guida à sua imagem no espelho, onde ela demonstra descontentamento com as marcas que lhe foram trazidas com o avanço da idade - as rugas, o corpo que já não é mais tão “definido”.
É durante mais um dia cansativo no trabalho que Guida vê um anúncio no jornal buscando uma voluntária de modelo-vivo para uma turma de pintores. Em uma súbita animação, responde o anúncio. Inicialmente, fica tímida com os olhares que vem de todos os lados, mas aos poucos, se acostuma e podemos ver sua “libertação” nos seus movimentos cada vez mais fluidos, ando a ficar confortável com seu corpo. E é a partir daí que Guida se torna várias em um corpo só: através dos olhares dos pintores, vemos ela se tornar bailarina, boxeadora e até mesmo, Frida Kahlo; não mais vítima da sua idade ou do fórum, mas sim, um corpo e uma alma livres que podem ocupar qualquer espaço.
A partir disso, conseguimos fazer uma alusão forte aos conceitos de beleza e feiura a partir dos olhares dos pintores que registram Guida nas telas, representada de tantas formas. Como Umberto Eco já considerava em “História da Beleza” e em “História da Feiura”, essa idealização do que é belo é um ‘juízo inconstante’ que varia não só conforme as epócas da história, mas também culturalmente e geograficamente - o que pode ser indescritivelmente belo para um, para outro pode ser feio. Como mensurar a ausência da perfeição, afinal? Um corpo velho é feio? Em Guida, temos certeza que não. Todo corpo grita uma história, ocupa um espaço, é marca de tempo e vida - e o que pode ser mais belo do que carregar em seu corpo uma história?
Para Verônica Almeida, professora de comunicação, jornalista e idealizadora do Blog Longevidade, projeto de laboratório da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) que fala sobre direitos e qualidade de vida dos idosos, Guida elabora uma visão fortemente imagética sobre o envelhecimento, indo de contramão ao senso comum e demonstrando que o envelhecer ultraa a dimensão ligada à temporalidade, envolvendo também aspectos biológicos, psicológicos e sociais. “O curta Guida toca muito nessa questão da mulher se perceber não apenas como um ser que tem sua história traçada como a vida de qualquer outro ser vivo na Terra, mas que existe ali, dentro daquela mulher, dimensões adormecidas e que ainda nem tinham desabrochado. O fato dela se sentir, ao final do seu processo de redescoberta, mais segura, vivida, feliz, confiante, são reflexos dessa autoestima que, muitas vezes, são sufocadas pelas mulheres devido a muitas questões, sejam elas religiosas, familiares, sociais, psicológicas e tantas outras. A reconstrução da autoestima da personagem revela-se como um processo de redescoberta e aceitação de suas diversas dimensões. Esse empoderamento reflete não apenas a jornada individual da personagem, mas também ressoa com desafios enfrentados por mulheres em diversas esferas da sociedade.”
A professora destaca, também, o fato de que estamos vivenciando um envelhecimento demográfico e, consequentemente, há um reconhecimento crescente da importância econômica desse grupo. “As empresas estão cada vez mais atentas a esse fenômeno, o que, por um lado, pode contribuir para que campanhas publicitárias, filmes, novelas, seriados e outros produtos midiáticos retratem de forma mais positiva esse segmento, questionando estereótipos associados ao envelhecimento. Atualmente, já podemos observar em alguns produtos uma maior diversidade etária e uma compreensão mais ampla e empática dessa fase da vida. No entanto, é importante permanecer vigilante em relação a abordagens meramente oportunistas, sem uma representação respeitosa e genuína sobre o envelhecimento. Acredito que o momento atual é oportuno para a discussão dessas questões que, por sua vez, podem contribuir para uma transformação nesse cenário, provocando uma reflexão mais profunda na sociedade e incentivando as pessoas a quebrarem as amarras que as confinam, libertando-se para um novo horizonte de possibilidades.”
O curta foi premiado no Festival de Annecy, em 2015, e venceu em quatro categorias no Anima Mundi de 2014, onde Rosana foi a primeira mulher a ganhar o prêmio de Melhor Curta-Metragem. E não poderia ser de outra forma! A animação de Guida é delicada e sensível, mas mesmo assim, forte e decisiva, combinando com a personalidade que a personagem expressa ter durante o filme, o que demonstra um amplo trabalho de pré-produção, roteiro e aprofundamento de personagens, fazendo em 12 minutos o que muitos longas não conseguem alcançar e sendo essencial para que a mensagem do filme fosse ada.
Os traços fortes que por vezes tomam a cena fogem do ideal de beleza simétrica e representam a variedade de corpos e formas, dando realismo para a imagem de Guida e, dessa forma, representando tantas outras mulheres que muitas vezes não são mostradas na arte de forma positiva e acabam questionando sua beleza em frente ao espelho, como a protagonista no início da animação.
Guida é sensível, atual e obrigatório para todos, mas principalmente para todas as Guidas espalhadas ao redor do mundo, mulheres que carregam em seu corpo mais do que traços, carregam história; e que precisam tê-las representadas em forma de arte.