{ "@context": "https://schema.org", "@graph": [ { "@type" : "Organization", "@id": "/#Organization", "name": "Lab Dicas Jornalismo", "url": "/", "logo": "/images/1731419915.png", "sameAs": ["https:\/\/facebook.com\/dicasjornalismo","https:\/\/instagram.com\/dicasdejornalismo","https:\/\/twitter.com\/dicasjornalismo"] }, { "@type": "BreadcrumbList", "@id": "/#Breadcrumb", "itemListElement": [ { "@type": "ListItem", "position": 1, "name": "Lab Dicas Jornalismo", "item": "/" }, { "@type": "ListItem", "position": 2, "name": "Cultura", "item": "/ver-noticia/30/cultura" }, { "@type": "ListItem", "position": 3, "name": "Entre a crise e a renovação: novelas tradicionais versus streamings" } ] }, { "@type" : "Website", "@id": "/noticia/14884/entre-a-crise-e-a-renovacao-novelas-tradicionais-versus-streamings#Website", "name" : "Entre a crise e a renovação: novelas tradicionais versus streamings", "description": "A baixa audiência das novelas da Globo e o avanço dos streamings refletem a mudança nos hábitos de consumo do público", "image" : "/images/noticias/14884/07052025135012_WhatsApp_I.jpeg", "url" : "/noticia/14884/entre-a-crise-e-a-renovacao-novelas-tradicionais-versus-streamings" }, { "@type": "NewsMediaOrganization", "@id": "/noticia/14884/entre-a-crise-e-a-renovacao-novelas-tradicionais-versus-streamings#NewsMediaOrganization", "name": "Lab Dicas Jornalismo", "alternateName": "Lab Dicas Jornalismo", "url": "/", "logo": "/images/ck/files/lab600.jpg", "sameAs": ["https:\/\/facebook.com\/dicasjornalismo","https:\/\/instagram.com\/dicasdejornalismo","https:\/\/twitter.com\/dicasjornalismo"] }, { "@type": "NewsArticle", "@id": "/noticia/14884/entre-a-crise-e-a-renovacao-novelas-tradicionais-versus-streamings#NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "WebPage", "@id": "/noticia/14884/entre-a-crise-e-a-renovacao-novelas-tradicionais-versus-streamings" }, "headline": "Entre a crise e a renovação: novelas tradicionais versus streamings", "description": "A baixa audiência das novelas da Globo e o avanço dos streamings refletem a mudança nos hábitos de consumo do público", "image": ["/images/noticias/14884/07052025135012_WhatsApp_I.jpeg"], "datePublished": "2025-05-07T13:49:45-03:00", "dateModified": "2025-05-07T13:49:45-03:00", "author": { "@type": "Person", "name": "labdicasjornalismo.informativocarioca.com", "url": "/" }, "publisher": { "@type": "Organization", "@id": "/#Organization", "name": "Lab Dicas Jornalismo", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "/images/ck/files/lab600.jpg", "width": 600, "height": 600 } } } ] }
A TV Globo está ando por uma crise de audiência com suas novelas, cenário que vem se agravando nos últimos anos. Mesmo com seu aniversário de 60 anos, a emissora ainda não conseguiu acertar em boas histórias que prendem o público em frente a telinha. Era comum que uma ou outra novela não caísse no gosto popular, mas outras produções conseguiam segurar a audiência.
Dados obtidos na reportagem do Na Telinha (uol), apontam que a novela “Garota do Momento”, que a às 18 horas, chega em 17,2 pontos em São Paulo. No “Rancho Fundo”, produção de 2024, finalizou sua exibição com uma média de 19,2 pontos. Às 19 horas, “Volta por Cima” dispõe de 19,3 pontos e empatou com “Fuzuê”, novela de 2023.
A novela das nove “Mania de Você”, que antecedeu o remake de “Vale Tudo”, apresentou apenas 21 pontos de média, ficando atrás de “Babilônia” – produção de 2015 –, que chegou a 25,4 na época. Já o remake “Renascer”, que foi ao ar em 2024, manteve uma média geral de 25,4 pontos em São Paulo, de acordo com o Kantar Ibope, ficando na frente de “Um Lugar ao Sol” (2021), que teve média de 25 pontos.
Há diversos fatores que justificam a crise de audiência das novelas da TV Globo, um deles são os streamings, que chegaram para estremecer o mercado audiovisual, fazendo com que as emissoras, antes detentoras das produções, a terem novas concorrentes. É impossível ignorar que houve um grande aumento no consumo de ficções, mas também nunca se teve tantas opções, e com qualidade.
O próximo ponto seria a consequência direta desse fato: a TV Globo não está conseguindo acompanhar as novas concorrências e alcançar as novas tramas, o que causa um afastamento do público. Antes a disputa era com outras emissoras, agora a batalha ficou ainda mais acirrada com séries e novelas que dialogam diretamente com o público jovem. Com o fim de Malhação em 2020, um formato que já estava desgastado, essa faixa etária não se apegou às produções que vieram a seguir. O problema central é que os jovens serão o público tradicional em um futuro próximo, além de ser o que mais consome e mais se interessa pelos anunciantes.
É inegável que o streaming soube chegar e se manter na vida das pessoas, mostrando que não era apenas algo ageiro. Os tempos mudaram, e a forma de consumir o audiovisual também. A TV aberta terá que buscar mudanças e aprender a coexistir com as transformações.
A novela Beleza Fatal, escrita por Rafael Montes e exibida na Max, alcançou um número alto de telespectadores, fez barulho nas redes sociais e as pessoas se reuniram em locais públicos para acompanhar o último capítulo. A Warner Bros. Discovery não divulga oficialmente os números absolutos da novela, mas, de acordo com o portal F5, o final – transmitido ao vivo – foi visto por 2 milhões de pessoas.
O público alcançado é alto para os padrões do streaming, apenas se iguala às transmissões de jogos de futebol decisivos. De acordo com a Warner, a produção foi a mais vista na plataforma durante janeiro e março, além de ser o lançamento nacional de maior sucesso desde o início da MAX. De acordo com um levantamento da revista Veja, o título está no Top 3 de produções locais com mais engajamento na América Latina. Já no hemisfério norte, está entre os dez programas mais vistos nos Estados Unidos, e entre os 15 na Europa.
Entrevistamos Felipe Nunes, estudante de jornalismo na UNESP-Bauru, natural de Jaú – interior de São Paulo –, que é apaixonado por novelas para comentar sobre o tema. Ele assiste novelas desde criança, começando pelas mexicanas exibidas no SBT, não demorando muito para consumir as produções nacionais.
“É o melhor gênero para construir personagens, pois eles am por várias camadas, têm redenção, um desenvolvimento que não vemos em filmes e séries”, afirmou. Felipe conta que sua primeira novela nacional foi “Alma Gêmea”, quando estava sendo reprisada. Ele conta que uma das produções que mais gosta é “A Vida da Gente”, exibida em 2012 e escrita por Licia Manzo: “É uma novela muito linda, tem relação de duas irmãs como palco central e a irmandade sempre foi algo que me atraiu muito. Tenho um irmão, então eu via muito a nossa relação naquela novela. E a Licia tem uma escrita muito profunda, dramática e subjetiva”, contou.
Felipe cita “Chocolate com Pimenta”, escrita por Walcyr Carrasco e exibida em 2004, que é cheia de momentos icônicos. A novela mais recente que o marcou é “Avenida Brasil”, que foi ao ar em 2012 de autoria de João Emanuel Carneiro: “Foi uma novela que parou o país, as pessoas queriam acompanhar a saga da Nina, da Carminha, a vingança e os acontecimentos”, afirmou.
Sobre as mudanças e transformações na teledramaturgia brasileira, Felipe comentou que antigamente as novelas eram soberanas. As pessoas não tinham muitas opções de consumo, então a televisão era a única tela disponível, ou seja, as novelas eram o entretenimento dos lares. “Tinha-se uma preocupação maior, pois davam lucro maior. Elas eram os produtos de maior audiência, ditavam as discussões populares, agendaram os temas. Ou seja, elas tinham uma importância muito grande – não que elas não tenham hoje, mas agora dividem essa importância com outras coisas. As pessoas sentavam religiosamente num determinado horário para acompanhar a novela, não é mais uma rotina que a gente vê”, destacou.
Atualmente, há séries, vídeos, podcasts, muitas formas de entretenimento, o que são um dos motivos da baixa audiência, de acordo com Felipe. E, consequentemente, o lucro caiu e a qualidade também. “Então, a gente vê novelas que às vezes têm umas cenas muito mal feitas que você olha e fala: ‘Nossa, como que isso foi pro ar? Como que deixaram filmar isso">. E eu acho que “Mania de Você” também foi apagada por isso, mas existem vários problemas”, explicou.
A história original seria protagonizada por Taís Araújo e Paolla Oliveira, mas as duas atrizes já estavam reservadas para “Vale Tudo”. “Com essa mudança, o autor mexeu na sinopse antes da novela estrear, reduziu a idade das protagonistas – porque a Luma e a Viola, que são a Agatha Moreira e a Gabz, iam fazer só uma fase e depois iam entregar o bastão para essas atrizes mais velhas”, contou.
Felipe conta que depois da primeira fase, a novela começou a ser cortada pelo processo de edição. Então, tinha viradas que o autor estava planejando só para o capítulo 70, mas antecedeu isso para o 50. João Emanuel Carneiro foi mudando a história por imposições da emissora, pela queda de audiência. “Eu acho que esse foi o problema dele: não conseguiu fazer uma história nova enquanto a novela estava no ar. A gente tem escritores que conseguem fazer isso, por exemplo Walcyr Carrasco – ele é mestre em ficar mudando a novela de acordo com o que está acontecendo. Tem autores que não têm essa mesma facilidade”, disse.
Felipe afirma que a história foi muito problemática em determinados pontos. Algumas discussões super importantes como racismo e machismo, a partir da Viola, e que poderiam ter sido discutidas, não foram com seriedade, com a profundidade que eram necessárias. A novela se perdeu, e tinha uma história muito forte inicialmente, que tinha potencial.
“Trouxe de volta um personagem que tinha morrido, o assassinato do Molina era a trama da novela e aí esse personagem não tá morto, era um plano mirabolante. E a gente tem a mãe do Mavi que não dá para entender ela, se ela gosta do filho, se não gosta. Se é uma golpista, se não é, ela vai, ela volta, é muito incoerente. A novela também apostava nisso. O jogo vira o tempo todo, tudo muda toda hora. Esse era o slogan da novela”, afirmou.
Pedimos que Felipe comentasse sobre os remakes, o que pensa a respeito: “Quando a gente não consegue ter o à obra, a emissora não consegue reprisar, não disponibiliza no catálogo do streaming, eu acho que o remake é válido, porque tem muitas pessoas que não tiveram contato com aquela obra e que gostariam de ter. Então, eu acho super pertinente fazer, atualizando a história para os dias atuais, porque também não pode ter uma abordagem anacrônica, por exemplo, tem uma obra que é machista, que é racista, deve ter mudanças”. Em contrapartida, quando a obra está super bem conservada, na plataforma de streaming, a emissora tem condição de reprisar, Felipe não vê sentido em refazer a novela, porque ela já está lá na íntegra.
Felipe está assistindo ao remake de “Vale Tudo” e disse que está gostando, mas que para ele não tem sentido ter uma releitura da produção, porque ela é super atual e está disponível no Globoplay. “Então, colocar no principal horário da emissora, que é o horário nobre – a faixa das nove –, uma releitura, um clássico, para mim não tem sentido, eu acho que tem vários autores que poderiam estar escrevendo novas novelas para esse horário, mas como estão fazendo e sou noveleiro, vou assistir”, finalizou.
Por fim, pedimos que Felipe comentasse sobre o sucesso de “Beleza Fatal” e ele começou falando sobre o autor da novela, Raphael Montes: “Eu já acompanhava a literatura dele, já li alguns livros e tive contato com obras audiovisuais que foram adaptadas a partir de obras dele, por exemplo, “Bom Dia Verônica” e “Um Final Feliz”. É um autor que está em ascensão, é jovem, tem essa pegada de mistério, thriller e crime. Eu acho que ele tem tudo para deslanchar, já foi colaborador de novelas da Globo, trabalhou como roteirista na novela “A Regra do Jogo” (2015), de João Emanuel Carneiro, e também em outras produções da emissora, como as séries “Romance policial – Espinosa” (2015) do GNT, e “Supermax” (2016) da Globo”, comentou.
Segundo Felipe, "Beleza Fatal" bebe direto da fonte dos grandes clássicos das novelas - e é justamente isso que conquistou o público noveleiro. É cheia de clichês no melhor sentido: tem trama de vingança, uma vilã escancarada que lembra até aquelas dos folhetins mexicanos. A Lola é o típico arquétipo da vilã que a gente ama odiar - ela não tem medo de ser cruel, de ofender, de botar a cara pra maldade. E a mocinha também é super bem construída, assim como o restante do elenco. Cada personagem tem seu espaço, sua função bem marcada na história. "Então - ao contrário de 'Mania de Você' - , em 'Beleza Fatal' a gente sabe quem é do bem, a gente sabe quem é do mal, a gente sabe quem é secundário", afirmou.
Felipe disse que a história é muito bem construída, tem subtramas, tem a história da Gisela com a distorção de imagem, tem o Átila que escondeu a sexualidade durante todo aquele tempo, tem a transfobia abordada pela personagem da Andreia. Tem muitas subtramas na novela, e isso é uma das almas, uma das coisas que faz a novela ter histórias sendo contadas à parte para além da protagonista”, comentou.
“É uma novela muito boa, bem escrita e dirigida, os atores estavam muito entregues e tem uma redução de capítulos, fazendo com que a novela não tivesse barrigas, que não ficasse lenta ou que se perdesse no caminho, porque a cada bloco de cinco capítulos um novo acontecimento vinha, era uma nova reviravolta, um novo um plot twist, que é muito característico da escrita do Raphael Montes”, disse.
De acordo com Felipe, o texto da novela nem sempre alcança a profundidade esperada. Em alguns momentos, os diálogos soam rasos e certas situações parecem mal construídas. Há furos que exigem do público uma boa dose de suspensão de descrença – como o fato de que todas as portas têm olho mágico, mas ninguém olha antes de abrir, dando de cara com vilões ou pessoas armadas. Porteiros que não avisam sobre visitantes e entregas suspeitas também são alguns exemplos. Apesar dessas falhas, a novela como um todo agrada e consegue manter o público envolvido.
“É uma obra que foi lançada fechada, então o autor não contou com a opinião do público para mudar o rumo dos personagens, para destacar o que as pessoas estavam gostando, para mudar o rumo de algumas histórias que o público não comprou. Mas que tem todos os elementos de uma novela”, afirmou ele.
Segundo Felipe, a história é clássica e carrega referências claras a grandes sucessos da teledramaturgia. Para ele, essa produção marca o início de uma nova era: “Se antes a Globo era hegemônica e praticamente a única produtora de novelas, agora o cenário está mudando”. A Netflix, por exemplo, lançou “Pedaço de Mim”, que tem um pé no melodrama e flerta com a linguagem das novelas, mesmo sem ser, de fato, uma. Já a Max apostou em um formato mais direto. A tendência, segundo Felipe, é que cada vez mais plataformas de streaming invistam em novelas com essa pegada: mais curtas, enxutas e com todos os elementos que conquistam o público noveleiro.
Quando se fala em sucesso, é difícil cravar com certeza, porque as plataformas de streaming ainda mantêm uma política bastante restrita em relação à divulgação de dados de audiência. Elas raramente compartilham informações completas, geralmente só são divulgados números quando a produção é um fenômeno, como “Stranger Things”. Fora isso, o que aparece é um Top 10, mas sem detalhes sobre o perfil de quem assiste ou se o conteúdo foi consumido do início ao fim. Às vezes, as plataformas anunciam que determinada série teve “tantos milhões de visualizações”, mas não especificam se esses números representam dois minutos ou toda a temporada. E isso, na prática, faz toda diferença na hora de entender o real alcance de uma produção.
De acordo com Felipe “Beleza Fatal” teve uma imensa repercussão social, as pessoas fizeram memes, está no TikTok, foi para o Instagram, para o Facebook, para as rodas de conversa, WhatsApp, tiveram eventos presenciais para transmissão do último capítulo, “então furou realmente a bolha, mas agora ela tá sendo exibida na TV aberta e está tendo índices muito baixos, não está superando dois pontos e às vezes tem menos que isso”, comentou ele. “Quando a gente pensa em “Mania de Você”, que foi uma novela considerada um fracasso, estava com 21 pontos. Ela tem 20 vezes mais audiência do que “Beleza Fatal” na Band. Então, até onde é só uma bolha que está consumindo e está repercutindo, quem tem o ao streaming? Então acho que são muitas questões”, pontuou.
Felipe finaliza dizendo que a novela foi bem construída e, de certa forma, deu uma chacoalhada no mercado. Com isso, a própria Globo deve começar a olhar com mais atenção para as novelas feitas direto para o streaming – afinal, até agora, só lançou “Todas as Flores”. “Guerreiros do Sol” já está pronta, mas ainda não teve a data de estreia divulgada. Já “Dona Beja”, da Max, ficou para o ano que vem. Tudo indica que a tendência é que as plataformas apostem cada vez mais nesse formato: ágil, direto ao ponto e com cara de folhetim, mas pensado para o ritmo do streaming.