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Os primeiros minutos de A Substância (2024) correm na tela e nosso olhar, muito bem adestrado, espera por um letreiro chamativo que nos convide a mergulhar naquela história, que é tão fresca para os nossos sentidos. A diretora sa Coralie Fargeat — do thriller feminista Revenge (2017) —, no entanto, resolve começá-la de outro modo: acompanhamos, numa primeira sequência, a feitura de uma estrela na calçada da fama. Não demora muito para os dizeres “Elisabeth Sparkle” — que, devo dizer, é um sobrenome bastante apropriado para uma atriz em ascensão — darem um propósito àquela insígnia tão convidativa. Em cenas rápidas, assistimos aquela estrela em seus momentos de esplendor, rodeada de flashes e iradores, até ser soterrada pelo tempo.
O destino amargo daquela placa reluzente não está ali por mero acaso. Fargeat nos conta, com muita acidez, a história de atrizes que, à flor da idade, estavam por toda parte: em produções bem-sucedidas, tablóides de notícias, revistas adultas e, para todos os efeitos, impregnadas no nosso imaginário. Este foi o caso de Sharon Stone, fatalmente loira em Instinto Selvagem (1992); Salma Hayek, na pele da “caliente” Carolina, par de Antonio Banderas, no longa-metragem de 1995, A Balada do Pistoleiro, e Angelina Jolie, nas películas de Tomb Raider (2001) e Sr. e Sra. Smith (2005), com quem contracena ao lado de seu ex-marido, Brad Pitt — que, como Tom Cruise e DiCaprio, em nada parece ter sofrido com os revezes do envelhecimento. Casta ou profana, a mulher que tem vida longa no estrelato é, e sempre fora, jovem.
No mais recente longa-metragem de Coralie Fargeat, Elisabeth Sparkle, uma ex-atriz de Hollywood prestes a completar 50 anos é, subitamente, demitida de um programa matinal de exercícios físicos — referência aos vídeos populares de aeróbica apresentados por Jane Fonda, atriz de Barbarella (1968), na década de 1980. O chefe da emissora — Dennis Quaid, em sua forma mais grisalha e repulsiva, representando a meia dúzia de homens poderosos da indústria — alega que a atriz perdera o brilho ao atingir a maturidade. Assombrada pela perda da juventude e de seu prestígio profissional, ela decide injetar uma droga que promete transformá-la numa versão mais jovem de si mesma. O experimento clandestino fez nascer, do corpo de Sparkle, a sedutora ‘Sue’, interpretada de maneira muito caprichosa pela atriz Margaret Qualley (Maid).
Esta é a premissa de A Substância (2024), horror que marca o retorno triunfal de Demi Moore aos cinemas — que, em outros tempos, fora o par romântico de Patrick Swayze em Ghost (1990) e a sensual Ellie Grant, no longa-metragem Striptease (1996) — e que tece duras críticas à pressão estética e ao etarismo que acomete boa parte das mulheres na indústria do entretenimento. Isso tudo embrulhado num visual indigesto e sanguinolento mas que, diferente de filmografias do gênero como a Mosca (1986), de David Cronenberg — o qual retrata, com muita maestria, o conflito entre o selvagem e o civilizado — e o terror estrelado por Justin Long, A Morsa (2014), que utiliza o terror gráfico à serviço do mero choque, o filme estrelado por Moore e Qualley descortina o horror corporal sob um olhar intimamente feminino.
Violência, substantivo feminino
A monstruosidade, aqui, não é apenas artifício para discutir dilemas morais ou um recurso para ser usado exaustivamente, sem que haja qualquer critério: ela é visceral, porque o horror corporal castiga as mulheres durante toda a vida — nos perigos que, muitas vezes, nos cercam antes da maturidade: a sexualização dos corpos, a romantização da gravidez e o medo do envelhecimento. Este último, numa sociedade cada vez mais adoecida pelo culto aos procedimentos estéticos, nos tira tudo: o prazer, o valor e o senso de si mesma. E é sobre esse terreno turvo de aparências que Demi Moore se entrega de corpo e alma, numa das melhores atuações de sua carreira, às angústias de Sparkle.
Margaret Qualley dá vida à estrela sensual e ambiciosa Sue, que usa deliberadamente seus atributos para manter-se num lugar de adoração — e que é preciso enfatizar: a experiência de crescer à frente das câmeras, um ambiente altamente hostil e misógino, desperta, nas mulheres, uma rivalidade que em nada é superficial. Já Moore brilha em mostrar uma resignação assustadora cena após cena — em especial, a que ela se encara no espelho, numa avalanche de sentimentos que, pouco a pouco, a colocam num lugar de completa vulnerabilidade.
Um dos grandes acertos da produção é, sem dúvidas, a forma magnífica como a diretora utiliza de sons ambientes — como, por exemplo, a mastigação repulsiva de Harvey, personagem de Dennis Quaid e o estalo dos ossos se partindo durante a transformação de Elisabeth — para tornar o desconforto ainda mais palpável e elevar a carga dramática do filme. Outro destaque para que o conjunto da obra da diretora atinja o impacto que ele se propõe é no trabalho de montagem: com enquadramentos que ora, emulam a beleza quase plástica de Sue, com um close exagerado nas curvas — numa mimética exata do olhar masculino — e ora reforçam o estado deplorável que Elizabeth se encontra, em ângulos que são, propositalmente, desagradáveis e claustrofóbicos.